Solidariedade
Acolher, ouvir, conversar, compartilhar, reconhecer, agradecer. São vários os verbos que podem ser conjugados para exemplificar as formas de ajudar ao próximo. Para quem recebe é sempre um alento. Mas, se engana quem pensa que o único beneficiado é aquele que é atendido pelas ações de solidariedade. A corrente do bem é uma via de mão dupla para quem se doa e para quem recebe. Para quem participa como voluntário ajudar o próximo traz benefícios quer são percebidos na formação do caráter, na ampliação da visão de mundo e no sentimento de gratidão por ter contribuído positivamente para o bem-estar de outras pessoas, com algo que já existe em nós, o afeto.
O Minas Tênis Solidário, programa de responsabilidade socioambiental do Clube, garante a associados, parceiros e comunidade oportunidades para que façam o bem, doando tempo, habilidades ou recursos materiais e financeiros para entidades assistenciais, creches, escolas, hospitais e pessoas em situação de rua. À frente do grupo gestor do Programa está Denise Siqueira Lobão, esposa do presidente Ricardo Santiago, que, nesta entrevista, fala do impacto da atuação voluntária em sua trajetória pessoal e profissional; explica a estrutura de atuação do Minas Tênis Solidário, que se baseia em grupos gestores; e reforça a importância do incentivo do trabalho voluntário na construção da formação cidadã dos jovens.
Minas Tênis Clube: Quando você começou a se engajar em projetos sociais e quais foram as suas principais motivações para se colocar a serviço do próximo?
Denise Lobão – Iniciei em projetos sociais na adolescência, por volta dos 15 anos. Nessa época, fazia parte do Grupo de Jovens da Paroquia Menino Jesus, no Bairro Santo Antônio. Essa Paróquia tinha o que se chamava de comunidade Irmã, a Vila Estrela (localizada no alto do Santo Antônio) e o Bom Destino (próximo a Ravena). Assim, o Grupo de Jovens, denominado Nova Geração, tinha alguns projetos sociais, nessas comunidades. Eu fazia parte do grupo de acolhimento, cujo objetivo era visitar as casas na Vila Estrela e conversar com moradores. Íamos todos os sábados pela manhã, acompanhados pelo Padre José Muniz. Nossa chegada era esperada e de longe já escutávamos: “Lá vem o Padre José com os Jovens!”. O simples fato de conversar e ouvir o que eles tinham para dizer, já fazia diferença para eles e para mim. Sentir a satisfação no olhar de cada um, em nos receber em suas casas, me motivava a voltar na semana seguinte, pois sempre saia de lá diferente de como entrei. Nessa época, aprendi o que depois ouviria muito “o sofrimento amadurece”. Quantos ensinamentos aquelas pessoas, com seu sofrimento, passaram para mim! No início, na minha imaturidade, achava que eu seria meio que “psicóloga”, ouvindo e que eu levaria ajuda. Com as visitas, fui percebendo que era uma via de mão dupla e que cada relato que eu ouvia, me levava a momentos de reflexões e seria um tijolo na construção do meu lado como ser humano. Também, a partir dessas conversas, fazíamos levantamento de necessidades e, a partir daí, promovíamos ações para tentar arrecadar alimentos, roupas, materiais de construção, brinquedos etc. para levar na semana seguinte. Quando chegávamos às casas, levando o que tínhamos conseguido, que muitas vezes era bem menos do que gostaríamos, era uma “festa” e o pouco para nós, era muito para eles e fazia “A” diferença. Assim, fui aprendendo a valorizar a minha vida e agradecer, sempre. Essa vivência foi o que motivou a me colocar a serviço do próximo, nos anos seguintes da minha vida.
MTC: Você se inspirou em alguém ou em alguma situação em especial, para se tornar voluntária?
DL – Com certeza! Minha inspiração: meus pais, com seus exemplos e a forma com que me educaram. A pessoa que sou hoje é fruto do que eles conceberam e me espelhei neles para educar também meu filho. Aprendi com a minha vivência que ser solidário e fazer o Bem é contagiante, vicia e pode ser passado dos pais para o filho (risos).
MTC: Você encontrou alguma dificuldade para desenvolver o trabalho voluntário, já que é necessário conciliar sua vida particular, seu trabalho e as ações solidárias?
DL – Sim, com certeza. No entanto, fazer o Bem sempre foi um dos meus propósitos e zelo por ele. Fazer o bem me faz sentir bem! Por isso, tenho a necessidade de saber que estou ajudando alguém de alguma forma. Obviamente, nas diferentes fases da vida, consegui dedicar mais ou menos, mas nunca deixo de ajudar. Penso que quando temos o real desejo de fazer trabalho voluntário, sempre conseguimos conciliar de alguma forma e não nos faltam oportunidades de ser solidários. Sempre terá alguém precisando de algum tipo de ajuda próximo de nós. Basta olhar ao nosso redor…
MTC: Desde setembro de 2017, quando o programa de voluntariado do Minas Tênis Clube passou por uma reformulação, ampliando o número de voluntários e de ações solidárias. Quais foram as principais mudanças de gestão que você considera primordiais para que esse crescimento do projeto acontecesse?
DL – Nessa reformulação, que ocorreu no primeiro ano de mandato de presidente do Ricardo, o programa voluntariado que era, até então, vinculado à gerência de lazer, passou a ser vinculado à Presidência do Clube e à Diretoria. Assim, o apoio institucional ao programa foi o pontapé inicial para o seu crescimento. A partir daí, o programa voluntariado foi renomeado, passando a se chamar Minas Tênis Solidário, ganhou nova logomarca e, assim, mais visibilidade. O grupo gestor também passou por mudanças, e os novos gestores elaboraram algumas estratégias para divulgar o novo programa e angariar novos voluntários. Foram realizadas reuniões com gerentes do Clube, chefes de departamento, técnicos, professores etc., com os objetivos de apresentar o novo programa e pedir o apoio e engajamento de cada área e que cada um deles fosse multiplicador e repassasse para os demais. Vale ressaltar que o apoio foi unânime e o espírito solidário contagiou a todos! Também associados foram convidados pelos canais de comunicação do Clube para participar da reunião em que foi apresentado o programa e, ao final, os que tiveram interesse em participar como voluntários preencheram o formulário de adesão. Outra importante contribuição foi o apoio de parceiros do Minas ao programa. Assim, o programa foi ficando conhecido, foi ganhando credibilidade e a cada dia aumentando o número de voluntários e com a participação de todos dessa equipe do Bem, conseguimos fazer muitos projetos, doações, ações solidárias que transformaram vidas.
Um ponto que gostaria de destacar é a participação desde os alunos das escolinhas, passando pelos atletas da base até os atletas de ponta. É emocionante presenciar a satisfação deles nas ações e me vem a reflexão do quanto importante tem sido o Minas Tênis Clube na formação de atletas e, sobretudo, de atletas-cidadãos!
A cada dia, essa corrente do Bem continua crescendo e os elos ficando cada vez mais fortes. Hoje, tenho comigo que o Minas Tênis Solidário já faz parte da vida da família minastenista!
MTC: Atualmente, as ações do Programa Minas Tênis Solidário são estruturadas em grupos. Qual é o benefício dessa forma de atuação e como é feito o controle das ações de cada grupo?
DL – Levando-se em consideração a responsabilidade socioambiental, a divisão é feita em grupos, por áreas de atuação. Dessa forma, temos um grupo gestor, um grupo administrativo e os grupos de voluntários que atuam nas áreas da infância e adolescência, idosos, educação, meio ambiente e ações pontuais. Essa divisão permite que o voluntário, ao se cadastrar, faça opção de qual grupo quer participar, conforme sua expectativa, perfil, habilidade e vontade mesmo. Cada grupo tem um representante. O grupo gestor se reúne mensalmente, na primeira terça-feira de cada mês. Na semana seguinte, um representante do grupo gestor se reúne com os representantes dos demais grupos. E cada grupo de voluntário tem o seu dia de se reunir. Dentre os muitos objetivos dessas reuniões está a elaboração de projetos que, ao final, serão apresentados à diretoria para aprovação ou não. Vale ressaltar que todo projeto passa pela apreciação da diretoria.
MTC: O que é necessário para que os sócios ou não sócios participem dos grupos de voluntários?
DL – O Minas Tênis Solidário está de portas e coração aberto para todos que queiram participar. Pode ser feito contato pelo telefone 3516-2090 e conversar com Ana Paula, ou pelo e-mail ana.sales@minastc.com.br. Também, se puder ir pessoalmente para conhecer melhor o programa, esclarecer duvidas, a sala do Minas Tênis Solidário fica no 9º andar do Centro de Facilidades do Minas I, na rua da Bahia, 2244. Será preenchido um cadastro e será feita a opção pelo grupo que irá participar. A partir daí, é participar das reuniões e mãos à obra para fazer o Bem!
MTC: Qual é a sua expectativa para os próximos anos, em relação ao Programa Minas Tênis Solidário?
DL – Todos nós estamos vivendo um momento ímpar na história, com a pandemia do Coronavírus. Todos, sem exceção, sairemos diferentes quando essa fase terminar e me atrevo a dizer que já estamos diferentes: mudanças de valores, comportamentos, nos relacionamentos humanos já são realidades. Diante de tantos males, dor e sofrimento um sentimento aflorou nos corações de todos os cidadãos: a solidariedade. Assim, meu sentimento é que o Minas Tênis Solidário terá mais voluntários, mais parceiros, mais apoiadores, porque mais pessoas, querendo fazer o bem, se engajarão no programa. Assim, ele terá mais força e será possível realizar maiores projetos socioambientais, não somente assistenciais, mas principalmente aqueles voltados para a transformação e a melhoria da qualidade de vida de pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social. Tenho a convicção de que fazer o bem e ser solidário é um caminho sem volta, e o Minas Tênis Solidário trilha esse caminho.