Grandes experiências
Fotos: Matheus Paiva/MTC
Rio de Janeiro (RJ) – Um dos grandes nomes da natação mundial, o técnico brasileiro Arthur Albiero está acompanhando o time do Minas e seus atletas Mallory Comerford e João de Lucca durante a disputa do Troféu Brasil-Maria Lenk, que segue até o próximo domingo (21/4), no Parque Aquático Maria Lenk. Albiero é ex-atleta do Clube e, atualmente, é treinador da Universidade de Louisville, nos Estados Unidos, e comanda a seleção principal norte-americana em diversas disputas internacionais. O feito é inédito para brasileiros e mostra toda a capacidade do treinador, que pegou um projeto desacreditado em Louisville e transformou em um dos grandes times do campeonato universitário americano (NCAA). Hoje, Albiero conta com três atletas (Mallory Comerford, Kelsi Dahlia e Zach Harting) na seleção que disputará o próximo Mundial, em Gwangju, na Coreia do Sul, em julho.
Em um bate-papo, Arthur Albiero relembrou sobre o início do projeto em Louisville, falou sobre a conquista de comandar a seleção da maior potência da natação mundial, comentou sobre projetos futuros e destacou o trabalho feito na natação do Minas. Confira, abaixo, as respostas do treinador.
Ida para Louisville
“Estou completando 16 anos em Louisville. Honestamente, nunca teria pensado que ia passar esse período todo por lá. Quando me ligaram, pensei ‘existe natação em Louisville?’, mas topei o desafio. Acertei a minha ida sem ao menos ver a piscina da universidade, que era terrível, em um porão abaixo do ginásio de basquete, com seis raias apertadas e 25 jardas. Mas tínhamos água, bandeirinha, raia, bloco de saída, então dava para fazer natação e nós fizemos. Fui com confiança para melhorar o programa e fazer dar certo, eu sabia o que precisava fazer. Os primeiros anos não foram fáceis, em alguns momentos pensei que aquilo não era para mim, mas fui aprendendo. Mudar a cultura não é fácil, você tira tudo e todos da zona de conforto, e isso gera atrito. Fui achando as pessoas que querem estar lá e que acreditam no programa. Hoje, terminamos o NCAA em quarto lugar no feminino e em quinto no masculino, entre universidades super tradicionais. Não é fácil. Hoje temos uma piscina melhor, 50m por 25 jardas, e um projeto para tentar um centro aquático novo. Talvez essa seja até a última coisa que eu faça por lá. Depois é a hora de passar para alguém que venha cheio de energia igual eu fui há alguns anos”.
Administrar um time
“A minha formação acadêmica é psicologia e fisiologia, então casou com o que adoro fazer. O engraçado é que tentei fazer administração e não me identifiquei, mas de uma forma ou de outra é o que eu faço agora. Ouvi do meu diretor atlético que eu não era o head coach da equipe, e sim que eu era o CEO, que eu tinha que pensar como CEO. Eu monto o programa, a estrutura do treino, vou atrás de patrocinador e verba, distribuo as bolsas da universidade de acordo com as regras, e isso tudo também é negócio, não é somente natação. Não mexo diretamente com a piscina, mas se acontece algo a responsabilidade cai em mim. Se deu problema, reclamam para mim. O que mais gosto de fazer é estar na borda da piscina, com tênis molhado, vibrando e chorando. Mas, tenho que fazer várias outras coisas bem para poder fazer isso e me divertir. É uma posição bem diferente, que só aprende fazendo, não tem livro que te explique”.
Athur Albiero e Mallory Comerfod estão com o Minas no Troféu Brasil. Nadadora já conquistou quatro medalhas de ouro
Seleção americana
“Minha primeira atuação na seleção americana foi nos Jogos Pan-americanos de Toronto, em 2015. Sou um brasileiro na comissão da principal natação do mundo, mas eles têm uma filosofia muito definida de que respeito é respeito e trabalho é trabalho. Não importa de onde você é. Vale a consistência do trabalho. Em 2016, depois dos Jogos Olímpicos do Rio fui chamado para ser head coach do time feminino no Mundial de Piscina Curta de Windsor, também no Canadá. Fomos bem e, além disso, a Kelsi e a Mallory ganharam muitas medalhas e bateram recordes. Em 2017, estive no Mundial de Budapeste e foi um momento único na minha vida. Duas atletas minhas estavam na final do revezamento, o time foi campeão mundial e com recorde americano. Cheguei no hotel depois, estava sozinho no quarto e chorei. Eu queria ligar para alguém, eu precisava falar com alguém, estava vivendo algo sensacional e precisava dividir. E depois disso, em 2018, me chamaram para ser head coach do time feminino no Pan-pacífico. Foi uma experiência muito boa. Foi uma competição difícil para os EUA, tivemos a seletiva, fomos direto para um training camping com um calor fora do normal, e depois chegamos em Tóquio um dia e meio antes da competição, e aí mudou todo o fuso. Em geral, os atletas sofreram, mas a Kelsi, a Mallory e o Zach nadaram muito bem e quando o time mais precisava. Ao meu ver isso vale muito, em termos de honra, saí de lá feliz da vida. Eles fazem controle de qualidade após as competições, e acredito que tem dado certo, porque continuo fazendo parte. E resultado é resultado, não tem politicagem. Quem sabe chego ao time que vai para os Jogos Olímpicos. É um passo de cada vez”.
Projeto Tóquio
“Assim que passaram os Jogos do Rio criamos o ‘Projeto Tóquio’ em Louisville. Não é nada demais, mas toda pessoa que toca no nosso programa e tenha qualquer envolvimento que seja com o time tem que apoiar, entender e apreciar o Projeto Tóquio. Não é que todo mundo vai para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, mas a estrutura tem que estar montada de forma que tudo seja bem feito para quem vai tentar uma medalha olímpica. Cheguei para o cara que limpa a nossa piscina e falei que ele fazia parte do projeto, que quando a gente chega para treinar e está tudo limpo é porque ele está ajudando alguém a ter chance de buscar uma medalha olímpica. Você muda o pensamento. Da mesma forma o salva-vidas e vários outros. A gente chega para treinar e a piscina está com a raia certinha para 50m, às 6h da manhã. Isso não é mágica, alguém trabalhou meia hora ali para acertar tudo. Assim como o meu diretor atlético, as decisões que ele toma impactam diretamente na oportunidade do pessoal ganhar uma medalha. Não estamos ali apenas como o time de natação enchendo o saco, nós temos objetivo. E vamos todos juntos, isso é muito importante”.
Minas Tênis Clube
“Cheguei antes do Troféu Brasil e fiz uma clínica no Minas para atletas e treinadores. E foi sensacional, fui muito bem recebido. Faziam 25 anos que eu não ia para Belo Horizonte. A última vez foi em 94 e, agora, estive em casa. Nasci e fui criado em São Bernardo do Campo e ia para as competições sozinho com o meu técnico. Depois, fui para o Minas e aprendi a fazer parte de um time lá, morei em república e foi uma experiência marcante. Todo mundo que eu nadava junto está, hoje, na comissão técnica do Minas, o Teófilo, que é o gerente, o Sérgio e o Indiani, que nadavam comigo em São Bernardo, o André Cordeiro. Tudo está conectado, estou revendo amigos. É interessante estar aqui e assistir a batalha deles como time. São profissionais de altíssimo nível. O programa que eles têm feito, a organização e o nível de detalhes que esses caras têm colocado, isso faz a diferença. É o tipo de coisa que eu valorizo no meu programa. Estou feliz de estar aqui e a Mallory também está. Ela adora essa coisa de time e estar todo mundo, ela se identificou com a equipe”.
Albiero em clínica de natação com os atletas minastenistas / Divulgação MTC
Futuro da natação
“Uma coisa que é muito importante e que não pode ser perdida, é o trabalho com as categorias de base. Hoje, temos atletas nadando até depois dos 30 anos e isso é legal. Mas, e aí? Vai chegar um tempo, em breve, que precisa manter a renovação. É importante continuar a investir na molecada mais nova e em estrutura. Também temos que ter números, a base tem que estar sólida, temos que ter mais crianças envolvidas com o esporte. O que faz a natação americana ser o que é hoje, é o nível de competitividade. Em qualquer competição que você vá, uma vacilada na eliminatória e você está fora. Essa competitividade é que eleva o nível. Temos uma nova administração da natação brasileira e é preciso tempo de organização. É um desafio”.
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