Cultura

Refletindo a natureza

Confira entrevista com Myrthes Figueiredo, autora de mostra na Galeria do Minas II

Nascida e criada entre Nova Lima e Belo Horizonte, a artista minastenista Myrthes Figueiredo conviveu, desde sempre, com a natureza. Pomares, quintais e jardins das casas mineiras fundamentaram a profunda conexão da artista com a natureza. Suas observações são tema da exposição “Miragem Botânica”, que está em cartaz na Galeria de Arte do Minas II e tem curadoria de Celina Lage.

O site do Minas conversou com a artista sobre suas inspirações, técnicas e vivências. Confira a entrevista completa abaixo!

Nesta exposição, qual sentimento a sra. espera despertar no público?
Com “Miragem Botânica”, quero que o público vivencie um encantamento profundo, revisitando suas próprias memórias de conexão com a natureza. A inspiração para essa exposição veio dos quintais e jardins da minha infância, vividos em uma época em que a cidade ainda não era dominada pela verticalização. Esses espaços eram repletos de vida e formaram meu primeiro vínculo com as cores, as formas e a harmonia do mundo natural. Mais tarde, como estudante da Escola Guignard, localizada no Parque Municipal, desenvolvi um olhar ainda mais atento e sensível. As aulas cercadas pela vegetação do parque me ensinaram a perceber a poesia nos pequenos detalhes da natureza e a transformá-los em arte. Esse olhar treinado e ampliado é o que desejo compartilhar com os visitantes, para que também redescubram a beleza nos detalhes ao seu redor.

Quais foram as suas principais inspirações para a criação destas obras?
Minha maior inspiração sempre foi a natureza, especialmente os quintais e jardins que fizeram parte da minha vida desde a infância. Esses espaços, ricos em diversidade, cor e vida, sempre me ensinaram a olhar para os detalhes e a buscar a beleza que muitas vezes passa despercebida. São essas experiências que busco traduzir em minhas obras, por meio de composições vibrantes e detalhadas. A natureza, para mim, não é apenas um tema, mas uma fonte inesgotável de energia e criação, que carrego em cada pincelada.

Dentre tantas linguagens e técnicas artísticas, por que e como a pintura a encanta?
A pintura é a linguagem que me permite explorar ao máximo a intensidade das cores e a complexidade das formas naturais. Ela me dá liberdade criativa para transformar memórias e sensações em algo tangível e universal. Além disso, a pintura tem o poder de criar uma conexão visceral com o espectador, permitindo que ele vivencie as emoções e os significados que trago em cada obra. É através dela que consigo expressar a energia, a vivacidade e a riqueza dos quintais e jardins que me inspiram.

A sra. consegue citar uma obra que o espectador não pode perder? Por que a peça escolhida é importante?
A obra “Resplandecentes” é um marco na exposição e sintetiza o conceito de maximalismo floral que permeia meu trabalho. Com uma composição rica e dinâmica, ela traduz a força e a vitalidade da natureza em camadas de cor e movimento. O que mais me fascina nessa obra é o diálogo entre luz e sombra, que confere profundidade e vida aos elementos florais. É uma peça que convida o espectador a explorar cada detalhe e a se perder na exuberância da composição, refletindo tanto a minha sensibilidade quanto a influência dos grandes mestres que moldaram minha trajetória.

Como sua formação artística influencia sua trajetória e sua produção atual?
Minha formação artística é profundamente marcada pelo modernismo em Minas Gerais, um movimento que teve em Alberto da Veiga Guignard um de seus maiores expoentes. A base dessa formação foi a Escola Guignard, onde me formei na década de 1970. Tive o privilégio de aprender com mestres que foram alunos diretos de Guignard, os chamados “filhos de Guignard”, que me transmitiram não apenas o rigor técnico, mas também a sensibilidade poética e a valorização da natureza como tema central. Por ter sido formada nessa linhagem, me considero uma “neta de Guignard”, carregando em minha obra o legado modernista que ele trouxe para Minas Gerais, com sua valorização da cor, da luz e da delicadeza nos detalhes. A celebração dos 80 anos da Escola Guignard este ano torna essa conexão ainda mais significativa, reforçando o papel da escola como berço da arte moderna no Brasil.

Além da Escola Guignard, minha passagem pela Escola de Arte de Augusto Rodrigues foi fundamental para complementar minha formação. Essa escola, com sua abordagem inovadora, me ensinou a valorizar ainda mais a liberdade criativa e a expressão individual, elementos que se tornaram fundamentais no meu processo artístico. Por fim, destaco minha convivência no ateliê de Selma Weissmann, minha contemporânea e colega de formatura na Escola Guignard. As trocas com Selma foram enriquecedoras, expandindo minha visão e me permitindo experimentar novas técnicas e abordagens.

Em “Miragem Botânica”, essas influências convergem para criar uma obra que carrega traços modernos em sua valorização da cor, do movimento e da natureza como tema central. Essa exposição não é apenas um testemunho da minha trajetória, mas também uma celebração do legado modernista de Guignard e da Escola Guignard, reafirmando como a tradição e a contemporaneidade podem dialogar de maneira vibrante e atemporal.

Para finalizar, qual recado a sra. gostaria de deixar ao Minas?
Por fim, gostaria de agradecer imensamente ao Minas Tênis Clube, por ter sido sempre parte da minha vida. Desde o início, com minha família, até hoje, como cotista master e Cabeça de Prata, o Clube tem sido um segundo lar. Aqui, cresci, me diverti, fiz amigos, construí memórias inesquecíveis e vivi momentos inigualáveis ao lado de minha família, incluindo meus filhos e netos. O Clube tem sido um refúgio de alegria, saúde e amizade.

Agradeço a todos os diretores, funcionários e colaboradores que ao longo dos anos contribuíram para que o clube se mantivesse um local de excelência e hospitalidade. Obrigado por todas as memórias, amizades e momentos extraordinários.

Miragem Botânica
Artista: Myrthes Figueiredo
Curadoria: Celina Lage
Montagem: Geraldo Peixoto
Período expositivo: até 29/12
Horário: De segunda a sexta-feira, das 6h às 22h; sábados, das 6h às 20h; e domingos e feriados, das 6h às 19h.
Local: Galeria de Arte do Minas II, av. dos Bandeirantes, 2.323 – Mangabeiras, Belo Horizonte -MG, 30210-420
Entrada franca.

Confira as fotos da abertura da exposição! (Crédito: Orlando Bento)