Dos livros ao palco
Dentro da programação da 50ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, o Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas recebe, em 13/2, às 20h, a peça “A Obscena Senhora H – Paixão e Obra de Hilda Hilst”. Sucesso de público e crítica, o espetáculo conta com atuação de Luciana Veloso, Melhor Atriz pelo Prêmio Nacional Cenym 2020. O monólogo traz um olhar questionador sobre a dominação masculina nas relações sociais, promovendo uma reflexão sobre o machismo, a violência contra a mulher e a cultura da opressão.
Confira nossa entrevista com a atriz e prepare-se para este grande espetáculo! Os ingressos têm preço único de R$ 25 e estão à venda nos postos Sinparc.
Minas Tênis Clube: Em que medida “A Obscena Senhora H” se aproxima da outra famosa obscena senhora, a D? E em que se distancia?
Luciana Veloso: Elas são muito próximas. “A Obscena Senhora H” é a Hilda Hilst enquanto escrevia o livro “A Obscena Senhora D” e, com certeza, ela deixou muito de si naquele momento em que estava dando vida a essa personagem tão marcante da literatura brasileira que é Hillé, a senhora D.
Costumo dizer que a Sra. D é um autorretrato da escritora que leva ao extremo a tensão entre a materialidade da carne e a intangibilidade do espírito. Ela é a voz de Hilda num tempo em que, desamparada, parecia distante de si mesma. Enquanto transbordava intensidade através da personagem forte, que não se submete aos homens, à vida, ao mundo e a Deus, Hilda Hilst vivia um dos piores momentos de sua história.
MTC: A peça foi composta por fragmentos do livro de Hilda, do romance escrito por Juarez Dias Guimarães, além de documentos. Conte-nos um pouco sobre este processo.
LV: O Juarez é uma das maiores referências em Hilda Hilst de Belo Horizonte e até mesmo do Brasil. Prestes a me graduar em Teatro pela UFMG, convidei-o para dirigir e fazer a dramaturgia do meu espetáculo de formatura. Muito generosamente, ele aceitou o convite.
Nesse momento, eu já estava completamente apaixonada pela obra de Hilda e muito impressionada com “A Obscena Senhora D”, por ter tido uma identificação muito forte com esse livro, que para mim é um trabalho primoroso. Então, eu sugeri ao Juarez que a gente trabalhasse a partir dele, eu queria fazer uma adaptação para o teatro. Juarez, com toda a sua sabedoria “hilstiana” e com todo material de pesquisa que ele havia documentado para a escrita do seu romance “Casa da Senhora H”, propôs a costura dramatúrgica entre a vida e a obra da autora.
MTC: Em um espetáculo solo, quais são os desafios de criar um universo que dialogue com o público? Onde é este ponto de encontro?
LV: Em um solo, eu sou menos provocada de dentro da cena, então para me manter presente e conseguir desenvolver as ações que vão constituir a cena teatral, preciso estar muito conectada com as pessoas que estão ali comigo e grande parte dos estímulos vêm mesmo é da relação com o público.
O maior desafio é justamente conseguir manter o equilíbrio entre o estar conectado “fora” e “dentro”. Manter a conexão com o público e com a narrativa que estamos construindo juntos e ao mesmo tempo conseguir submergir na história, na cena, em alguns momentos me deixar ser levada pela ficção e até me perder.
Por mais contraditório que pareça, uma relação sustenta a outra. E, a cada apresentação, eu aprendo muito sobre teatro e sobre atuação.
MTC: Mais de 20 anos depois de sua morte, por que ainda é importante falar sobre/encenar Hilda Hilst? O que há de atemporal nela?
LV: Hilda Hilst é intensa e provocadora, sem dúvida uma das mulheres mais fortes da nossa literatura. Ela nunca aceitou ficar à sombra destinada às mulheres pela sociedade de sua época. Ela trata de temas atemporais com uma escrita densa, em uma tentativa contínua de entendimento do sentido da vida e da morte. Para ela, a literatura servia também de instrumento para comportar-se de maneira esdrúxula diante dessa relação paradoxal entre o escritor e a obra.
Mesmo escrita há 40 anos, sua obra – e as referências trazidas pela sua biografia – se faz atual e necessária quando traz reflexões sobre práticas machistas, violência contra a mulher e o verdadeiro sentido da vida, com personagens que questionam Deus, a vida, a morte e o corpo.
Serviço
A Obscena Senhora H – Paixão e Obra de Hilda Hilst – 50ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança
Data: 13/2
Horário: quinta, 20h
Gênero: teatro adulto
Classificação: 16 anos
Local: Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas
Ingressos: R$ 25 – preço único nos postos Sinparc.
Estacionamento com acesso interno: entrada pela rua da Bahia, ao lado do Teatro. Após estacionar o veículo, o usuário chega ao Teatro por elevador interno, com rapidez e segurança. O Estacionamento fica aberto até meia hora após o fim do espetáculo.
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