Cultura

Carlos Nejar

O gaúcho Carlos Nejar, membro da ABL, exalta a língua portuguesa

Nesta edição da série Cultura em Pauta, produzida pela Assessoria de Comunicação do Minas Tênis Clube, a língua portuguesa, descrita por Olavo Bilac (1865-1918), como a “última flor do lácio”, é o tema da entrevista com  o escritor gaúcho Carlos Nejar, 81 anos, ocupante da cadeira nº 4 da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Autor de poemas, novelas, romances e livros infanto-juvenis, Carlos Nejar, discorda de Olavo Bilac, que escreveu ser a língua portuguesa rude e dolorosa. “A rudeza pode vir de quem não sabe tratar a língua e a dor é de quem não a conhece na beleza e honra de sua fala”, defende o acadêmico gaúcho, que é pai do jornalista e poeta Fabrício Carpinejar. 

Para Carlos Nejar, a língua “forja a identidade, ou o rosto verbal, de pensamento e sonho de um povo, a sua sociedade e o destino de grandeza”. Ele afirma, ainda, que a língua portuguesa tem sido maltratada, assegura que a leitura constante pode ajudar e sugere vários livros que podem ajudar as pessoas a conhecer melhor a língua portuguesa.

MTC – Qual é a importância da língua para uma sociedade?

Carlos NejarA importância da língua é a da alma para o corpo. Forja a identidade, ou o rosto verbal, de pensamento e sonho de um povo, a sua sociedade e o destino de grandeza. Bem como a forma de  comunicação na fala e na escrita. Respeitando e modelando a tradição dos ancestrais.

MTC – A língua é viva? Como se percebe essa vitalidade?

CNSim, a língua é viva, porque traz o sopro dos que estão vivos. Ou mesmo dos mortos, pela escrita, onde o espírito continua soprando.

MTC – O senhor acha que a língua portuguesa vem sendo maltratada?

CNSim, vem sendo maltratada. Por exemplo, em certa ignorância que chamo de doutoral, do tipo de especialista que, ao saber da ciência, julga não precisar do sabor e sabedoria da língua.

MTC – A leitura constante ajuda as pessoas a tratarem melhor a língua portuguesa?

CNSim, a leitura ajuda, orienta, dá possibilidade de comparação, modela, como o curso do rio conforma a água.

MTC – Escritores da chamada nova geração escrevem como falam, sem seguir as normas gramaticais. Qual a opinião do senhor sobre isso?

CNNão entro no mérito. Não se precisa inventar o que já existe. Por mim, sigo e admiro a norma. Aliás, é mais difícil inventar dentro da língua, do que fora dela.

 

MTC – “Amo-te, ó rude e doloroso idioma (…)”. Último verso do segundo terceto do soneto de Olavo Bilac, intitulado “Língua Portuguesa”. O senhor concorda com o Bilac que o português é rude e doloroso?

CNDiscordo de Bilac. O idioma é ato de amor, portanto, não é nem rude, nem doloroso. A rudeza pode vir de quem não sabe tratar a língua e a dor é de quem não a conhece na beleza e honra de sua fala. A alma da língua reina, quando se aperfeiçoa e se expande. É alma geral.

MTC – Qual é a importância de ser um imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) e saber ser um representante e defensor da língua pátria?

CNSim, é “glória que eleva, honra e consola,” como observou o fundador da Academia, Machado de Assis. Honra por estarmos com aprofundado amor na palavra, tendo consolo de estreitá-la nos sonhos, junto à elevada memória dos que nos antecederam e sucederão.

MTC – Quais são as leituras essenciais para se conhecer de forma melhor língua portuguesa?

CN“Ler é indagar “, como observava Kafka. Ou melhor, é entrar na terra do coração, imaginando junto, “pensar sentindo”. São tantos os autores, que nos modelam: Machado,  Pe. Antônio Vieira, Eça de Queiroz, Luiz Vaz de Camões , Fernando Pessoa,  Carlos Drummond, Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Rachel de Queiroz, João Ubaldo, Ana Maria Machado, Lygia Fagundes Telles,  Moacyr Scliar, Nélida Piñon, Antônio Torres.. e por que não? – João Cabral, que completa cem anos de nascimento, entre outros, de nossa língua comum.

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